01 agosto 2006

SEBRAE X DETRAN Por Fábio Henrique

Você deve estar pensando: o que o Sebrae tem a ver com o Detran? Pois bem. Vamos considerar que para dirigir um veículo não fosse obrigatório tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Se o condutor quisesse, poderia ir até o Detran e receberia o treinamento, mas, caso contrário, sentaria ao volante de um veículo e sairia dirigindo. Gostaria que você me respondesse com sinceridade: você enfrentaria aquelas aulas cansativas, estudaria aquele livrinho amarelo, gastaria um valor que muitas vezes não tem disponível com aulas práticas em uma auto-escola?
Além disso, você se sujeitaria a ficar horas aguardando sua vez de fazer o exame prático, no sol ou na chuva, na frente de várias pessoas, que muitas vezes parece que estão torcendo para que você não passe no teste? Ou você simplesmente pediria para seu pai, sua mãe, um irmão, ou mesmo um amigo mais experiente lhe dar algumas dicas e pronto?
Na minha opinião, a grande maioria não procuraria o Detran. Na verdade, tudo isso é utopia: somos obrigados a nos habilitar para conseguir uma autorização do órgão responsável. Ou seja, esse órgão atesta que você foi treinado, foi informado sobre as leis de trânsito e está apto a conviver ao lado dos demais motoristas, certo? Mesmo com todos esses cuidados, nosso trânsito é um caos, ocorrem milhares de acidentes que causam ferimentos, mutilações, mortes, etc. Agora, imagine como seria se não houvesse o Detran e os motoristas não fossem obrigados a se habilitar para dirigir como eu descrevi acima.
Você deve estar se perguntando o que isso tudo tem a ver com gerenciamento de empresa. Eu explico. Se você é empresário, sabe que para abrir uma empresa basta redigir um contrato social e registrar na Junta Comercial, certo? Caso você não seja empresário, agora já está sabendo o que é preciso para abrir uma empresa no Brasil. Pois bem, você acha que a grande maioria das pessoas nasce sabendo como se administra uma empresa? Claro que não. Dirigir e gerenciar uma pequena empresa no Brasil não é uma tarefa nada fácil. Os números das pesquisas mostram isso. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae-SP mostra que entre 1990 e 2000 foram abertas, na Junta Comercial de São Paulo, em torno de 1,5 milhão de empresas. Desse total, cerca de um milhão encerraram suas atividades no mesmo período. A taxa de mortalidade das empresas paulistas chega a 32% no primeiro ano, 56% em três anos e 71% em cinco anos de atividade. Esse número, ao mesmo tempo triste, é assustador, pois apenas 29% das empresas conseguem chegar vivas ao quinto ano. Será que esse número elevadíssimo é apenas responsabilidade da economia brasileira?
É claro que a taxa de juros é alta, falta capital, o mercado está recessivo, a mão de obra nem sempre é qualificada, as margens de lucro estão caindo, o dólar está subindo, enfim, tudo isso é verdade. Porém, tenho empresa desde os 18 anos de idade, já lá se vão praticamente 18 anos de experiência no gerenciamento de pequenas empresas, sem contar três anos gerenciando pequena empresa caseira (informal). Posso afirmar que o cenário não mudou muito. As dificuldades são praticamente as mesmas de hoje. Falta de capital, problemas no fluxo de caixa, inadimplência, concorrência, dólar, etc.
Sendo assim, chego à conclusão que não tenho que esperar a mudança do cenário, pelo contrário, devo mudar a peça. Nesse longo período já me vi nas trevas várias vezes, quase fali, já perdi muito dinheiro, já fui protestado mais de 50 vezes, meus cheques já voltaram mais de 100 vezes. Tenho uma certa experiência como inadimplente. Sempre pensava muito sobre o assunto e não entendia o que acontecia. Eu me formei em Administração de empresas e teria a obrigação de entender sobre o assunto. Mas na verdade só comecei a entender o que acontecia quando tive a oportunidade de fazer uma Pós Graduação. Aí sim, percebi que 80% dos meus problemas financeiros tinham origem na pura falta de conhecimento. Eu era o grande culpado pelos erros.
Na verdade, na universidade me ensinaram a administrar dinheiro, mas não aprendi a administrar a ausência dele. É claro que a grande maioria da população brasileira não tem condição de freqüentar uma universidade. E sabendo disso é que me pergunto: onde entra o Sebrae nessa história? O Sebrae está à disposição, é um órgão responsável e bem capacitado, porém é muito passivo, quando deveria ser um órgão ativo, como o Detran. O futuro empresário deveria ser obrigado a fazer um cursinho de pelo menos cinco dias para aprender a gerenciar uma empresa, ou no mínimo, aperfeiçoar seus conhecimentos.
Nesse curso, ele teria professores capacitados a ensinar sobre viabilidade do negócio, fluxo de caixa, estoque, inadimplência, depreciação, resultados, capital, receitas, tributos, custos, ponto de equilíbrio. Não estou dizendo que essa mudança resolveria todos os problemas dos futuros micro e pequenos empresários. É claro que não deixaremos, ao menos a médio e curto prazo, de enfrentar todos os problemas que citei acima sobre a economia brasileira. Mas acredito que essa atitude reduziria em muito a mortalidade infantil entre as pequenas empresas do nosso Brasil

Fábio Henrique é administrador e empresário e autor do livro "Tire sua empresa das trevas" (fabioh@typenew.com.br)

Um comentário:

Marcio Nobrega disse...

É como muito prazer que recebo que a primeira colaboração deste blog, Fabio Henrique é o escritor do livro "Tire sua empresa das trevas", um patrão que ja viveu as inumeras dificuldades encontradas nesta ardua tarefa mas que com a busca do conhecimento e experiencia pode finalmente mudar de categoria, de patrão de uma ME iniciante e sem recursos para empresario de uma ME estavel. Acessem o link "Ponto de equilibrio" e conheçam o site deste autor.