12 dezembro 2006

QUEM JÁ NASCE EMPREENDEDOR? por Ivan Pereira da Silva

Todos nascem empreendedores. Faz parte da natureza humana. A sociedade é que nos limita, condiciona e constrange. Somos produtos do meio (ou vítimas), em determinado tempo e espaço, sob circunstanciais crenças e valores.
Todas as crianças inventam moda, com maior ou menor atividade, mas todas criam e inovam. O que as detém são as presilhas que os pais, os parentes e os professores lhes impõem, para "protegê-las" e garantir um "futuro melhor". O futuro que eles concebem como o ideal, sem perguntar ao seu orientado ouprotegido se é aquilo que ele quer, aproveitando-se da condição de não ter ainda pensado no assunto ou não ter formado juízo de valor suficiente. Os jovens são subornados por mesadas condicionadas a determinadas condutas ou vocações convenientemente manifestadas. Desta maneira, a índole e o inato comportamento empreendedor são sufocados e aprisionados. Mas ficam em estado latente, hibernando como os ursos do pólo norte...
Mas, um dia, a camada de gelo se rompe... E, adultos, eles verificam que não aprenderam a gerir nada. A solução poderá ser o Sebrae ou um grupo virtual que, na Internet, lhes dará uma renovada esperança.
Minha mãe queria que eu fosse padre, para ser mais bem tratado quando chegasse o sublime momento de adentrar o reino do Senhor; papai queria que fosse funcionário público e me matriculou num curso para que eu me capacitasse aos concursos; já meu tio queria que eu me formasse advogado para um dia ser juiz e, para tanto, se esforçou para que eu cumprisse uma faculdade de direito, dando-me uma bolsa.
Ainda na adolescência, o padre da paróquia me informou que se eu ficasse rico não entraria no reino dos céus, enquanto que um camelo seria capaz de passar facilmente pelo buraco de uma agulha. Achei esquisito, mas não devia duvidar da palavra de um representante divino. O funcionário, no guichê do serviço de emissão de carteiras de identidade, me disse que a vida dele era uma miséria, mas ele não largava porque estava garantido, tinha estabilidade, apesar da parca sustentabilidade financeira, e, ainda, me sugeriu colaborar para que ele comprasse tinta, senão o carimbo da repartição funcionaria muito lentamente. Assim, validei a minha certidão mais rapidamente.
Tempos depois, fui testemunha num caso de atropelamento causado por um amigo, filho de um juiz. Fiquei sabendo por que seria bom ser juiz: a vítima foi condenada a pagar o estrago no pára-lama do carro de meu amigo, culpado por estar desatento em via pública. E deu sorte, se fosse entendida como dolosa tal atitude, a vítima estaria presa. Fiquei pensando... Terei que fazer a mesma coisa se o menino fosse meu filho e o atropelado um amigo?... Como a dúvida perdurou, até hoje penso nisso e o tempo passou. Não me tornei juiz. Fiquei fora do contexto...
Gostava mesmo era de vender goiabas na feira, colhidas de cerca de vinte goiabeiras que cuidava, no quintal grande que tínhamos. Cresciam protegidas por sacos de pipoca que eu colocava para evitar os passarinhos. Fora da temporada, vendia cuscus de tapioca feitos pela minha avó. Uma delícia disputada por todos.
Aqueles trocadinhos me permitiam pagar cinema para as meninas e namorar no escurinho. Até para comprar as bolas que me garantiam a presença no time de futebol do bairro. Eu me realizava, por que não precisava pedir dinheiro para o papai. Era um diferencial para competir com os demais meninos, tanto no campo ensolarado quanto nas poltronas no escurinho do cinema. Empreendedor aprende a se virar...
Apesar de as escolas nos prepararem para sermos empregados e não terem disciplinas para nos
capacitar a dirigir ou comandar pessoas, como nos quartéis e nas igrejas, nunca tive um patrão. Acho que nasci para ser empreendedor.

Ivan Pereira da SilvaEconomista, Pós-graduado em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial. Membro do Instituto Brasileiro de Agronegócio e Organização – IBAO. Consultor e Educador do SEBRAE/RJ. Consultor em Marketing e Inteligência Empresarial.

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